Muitas pessoas entram em depressão depois que
descobrem uma traição conjugal. Não suportam a idéia de que
seu parceiro se envolveu com outra pessoa, mesmo que não tenha
havido relação sexual. Vivem muito bem, conscientes da fidelidade
do outro, considerando que seu amor é correspondido
integralmente e exclusivamente. Quando acontece no casamento,
essa certeza significa uma confirmação de suas crenças a respeito
do mesmo, como uma âncora de um navio, que o segura para
não ser arrastado. Quando a traição ocorre, perdem a estabilidade
que acreditavam ter. O motivo disso é o acordo implícito e explícito
na união a dois: fidelidade e reciprocidade.
Esses dois princípios também são influenciados ou fortalecidos
pelo sentimento de amor que um sente pelo outro. Porém,
eles não são confirmados esporadicamente, isto é, geralmente os
votos estabelecidos na união a dois não são discutidos, nem
atualizados, a cada período da vida. Presume-se que aqueles
princípios permaneceriam inalterados ou seriam ampliados a cada
ano que passam juntos. Nem sempre isso ocorre. O mistério que
existia no início da relação dissolveu-se com o tempo, sem que
ambos percebessem. Quando a relação apresenta sinais de que
está claudicando, um ou outro procura, à sua maneira, melhorá-la
para que não venha a ser destruída. Muito raramente isso se dá
através do diálogo maduro e transparente.As causas do término de uma relação ou de sua degradação
são incomensuráveis. É sua degradação que possibilita a disponibilidade
para que outra pessoa nela entre. Às vezes, a relação já
começa com sinais de que isso ocorrerá, pois, além de os sentimentos
não serem da mesma intensidade ou qualidade, os motivos
da união são diferentes. As pessoas não se unem com perfeita
sintonia de propósitos ou com o mesmo sentimento um pelo outro.
Com o tempo e o desgaste da convivência, pode ocorrer que um
deles se apaixone por outra pessoa ou mesmo que tenha uma
relação fortuita, imprevista ou não planejada.
Quando a traição descoberta é apenas decorrente de uma
relação fortuita, não causa tanta depressão, mas quando efetivamente
existe outra pessoa por quem o outro nutre algum
sentimento, sua probabilidade é bem maior.
Quanto mais madura a pessoa que passe pela traição
conjugal, menos propensa será a entrar em depressão. Principalmente
se a pessoa entender que o fato deve servir de catalisador
para mudanças radicais em sua vida e em sua personalidade.
Muitas pessoas que passam pela traição conjugal sentem
seu mundo desabar, isto é, perdem as estruturas que sustentavam
sua vida. Entram em depressão por falta de um chão. Devem
entender que isso decorre de uma exclusiva crença de que a própria
felicidade se encerra naquela relação. Quando tem filhos,
muitas vezes, a entrada na depressão é mais rápida, pois a preocupação
com o futuro deles surge como fator adicional de culpa.
Quem passa pela traição sempre se pergunta qual a causa
em si para que aquilo tenha ocorrido. Reflete sobre todas as fases
de sua relação procurando onde houve erro e de quem foi. Um
culpado vai ser encontrado. Essa reflexão deve ser útil, não que
se puna alguém ou para que a mágoa permaneça, mas para que
ambos passem a ter maior ciência do que pode ocorrer numa
relação a dois. Ambos precisam disso, pois talvez não tenham
aprendido essa lição da vida. Entrar em depressão por essa causa,
é dar lugar a outro problema, ampliando o próprio sofrimento.
O espírito que atravessa o problema da traição conjugal,
com ou sem separação, pode estar vivendo uma experiência
resultante de seu próprio passado. Neste caso, entrar em
depressão é sucumbir ao próprio passado sem aprender
novamente. Fundamental é aproveitar a dura lição para crescer.
Isso não significa que não sinta ou não lamente o ocorrido.
Ninguém quer passar por isso e ficar sorrindo como se fosse bom
ou como se nada estivesse acontecendo. É ruim, traumático e
desgastante. É uma experiência dolorosa para qualquer pessoa.
Aprender e crescer são extremamente importantes.
A depressão por causa de uma traição conjugal pode estar
associada à mágoa, ao sentimento de inferioridade, à culpa, à
sensação de derrota, à vergonha, à certeza de que seu amor não
era correspondido, bem como tudo que se aproxime da decepção
com o outro. Tais emoções e idéias devem ser trabalhadas de tal
maneira que não levem a pessoa à fuga pela depressão. Devem
levar à certeza de que aquilo será superado e de que sua própria
vida pode ser vivida de forma diferente; de que existem várias
formas de se viver.
Nenhum problema pode dominar os pensamentos, idéias e
sentimentos de uma pessoa, sob pena de enviesar sua vida,
reduzindo as capacidades de apreensão da realidade e,
consequentemente, de crescimento.
Entrar em depressão por conta de um conflito, principalmente
de uma traição conjugal é dar mais valor ao ato do outro
do que a si mesmo.
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